Louco De Raiva







"Ora, não se irrite!" Pois é, falar é fácil... Mas quem não consegue seguir esse conselho? Não importa: Também a irritação e a raiva têm sua utilidade. Basta que a gente aprenda a lidar com elas.                                                       O que engarrafamentos, políticos, televisores quebrados e sujeira de cachorro na rua têm em comum? Acertou: nós nos irritamos com tudo isso. E, aliás - do ponto de vista psicológico -, nos irritamos sempre que não conseguimos atingir um objetivo, satisfazer um desejo ou quando nossa auto-estima é atacada.A irritação é uma emoção hostil contra determinada causa. Ainda que seu primeiro impulso dure apenas uns poucos segundos, o estado de irritação pode perdurar por mais tempo e reavivar a emoção a qualquer momento. Embora a percebamos como desagradável, a irritação em si - sobretudo quando bem vivida - pode ser divertida também.Em geral, somos capazes de conter a irritação, seja por medo de vingança ou em decorrência de sentimentos de culpa, por exemplo. Se, porém, não conseguimos fazê-lo, uma reação raivosa exagerada pode facilmente conduzir à agressão destrutiva e ao emprego da violência - relacionamentos têm, então, seu fim precipitado ou danos são causados a nosso semelhante. Explosões de violência surgem particularmente em situações de estresse social - o encurralado acredita que somente o ataque pode salvar-lhe a auto-estima.É freqüente que crianças e jovens ostentando reações agressivas impróprias e incapazes de controlar a própria raiva tenham sofrido um longo período de carência afetiva e sido privadas de carinho e proteção. Reiteradas experiências com a violência também podem provocar o comportamento agressivo, o que, por sua vez, dificulta a construção de novas relações sociais. Nesse caso, é possível que, com tal comportamento, se busque inconscientemente evitar novas decepções e rompimentos.Outros problemas podem surgir quando reprimimos ou não minoramos irritação e raiva. Ambas ativam o sistema nervoso simpático e põem o corpo em estado de alerta. Se, em decorrência de estresse prolongado no ambiente de trabalho, não logramos atenuá-las, medidas automáticas do sistema nervoso e processos hormonais são postos em curso, com graves conseqüências: passamos a sofrer de um estado de tensão e de distúrbios cardiovasculares crônicos - sobretudo hipertensão arterial -, e nosso sistema imunológico se enfraquece.Como lidar melhor, então, com esses sentimentos? Eles são parte do equipamento emocional básico dos seres humanos e, assim sendo, não podemos bani-los. Pelo contrário: sua presença indica um conflito ou um perigo a nos ameaçar, razão pela qual devemos dar atenção a essa presença e levá-la a sério. Graças a esses sentimentos, refletimos sobre nossos próprios limites, rechaçamos - se necessário - quem se aproxima deles e nos protegemos de intrusões indevidas. A energia que a irritação põe à disposição afasta o medo e a sensação de impotência. As emoções voltam nossa atenção para o problema a ser resolvido. Assim, em vez de "Ora, não se irrite!", deveríamos dizer: "Trate de se irritar, sim - mas com moderação".Para lidar de forma apropriada com esses sentimentos devemos, antes de qualquer coisa, tomar consciência de nossa irritação, com todos os seus indicadores físicos e emocionais. O passo seguinte é dar expressão consciente ao sentimento: as palavras nos permitem manifestar a irritação sem ter de recorrer à violência física. Não podemos nos esquecer, porém, de que também as palavras e os gestos podem ferir muito, em particular quando manifestam irritação velada. Nesse sentido, seria salutar que todos aprendessem e exercitassem desde pequenos como evitar e minorar a irritação também nesse plano, da mesma forma como aprendemos a nos comunicar e a cultivar relacionamentos.Por fim, devemos ainda ter clareza de que, com nosso comportamento, está em nossas mãos irritar ou não nossos semelhantes. Também somos responsáveis, portanto, pela irritação e pela raiva ao nosso redor, e devemos levá-las a sério. A irritação pode nos ajudar a impor respeito por nossos limites e a articular nossos próprios interesses. Ao mesmo tempo, porém, cabe-nos respeitar os limites e a integridade dos outros. Fonte Rev Mente e Cérebro set/04 - edição 140