Por: Maria José Carvas Pedro, phd Maria de Fátima Abud Olivieri, phdConsiderando que o princípio, meio e o fim da educação é o ser humano e que os recursos mais importantes de uma organização são as pessoas, estudar a sua gestão é uma prática quase que inevitável para qualquer empresa, sobretudo as de educação, uma vez que cada ser humano possui aptidões, pretensões, atitudes, valores, motivações e comportamentos próprios, que podem de certa forma influenciar no clima organizacional. Cabe ressaltar aqui, alguns conceitos sobre administração, gestão e empreendedor, para facilitar a intelecção do leitor. Administrador ou Administração: é a parte operacional ou parte burocrática (incluindo todas as atividades que conhecemos na área de administração). Ou seja, o administrador está preso às atividades burocráticas da empresa, através das funções administrativas: planejamento, organização, direção, comando e controle. Gestor ou gestão: é a parte intelectual (a parte abstrata), o pensador, aquele que está pensando sempre à frente na tomada de decisões. Empreendedor: tem características diferenciadas do empresário, ele é intuitivo, ousado, criativo. Por isso há poucos empreendedores no mundo. Eles têm um perfil diferente nato. Quando entram em falência, voltam mais fortes e renascem como fênix, diferentemente do administrador que via de regra, desanima com o fracasso. Educar é estimular a busca da perfeição, elevar, despertar a consciência e ainda, facilitar o progresso integral de cada indivíduo. Esse conjunto de capacidades é que faz impulsionar o crescimento empresarial, porém cabe à empresa/instituição, o desenvolvimento de habilidades para recrutar, treinar e manter empregados bem qualificados. Segundo Gadotti (1991), a educação é obra transformadora, criadora. Ora, para criar é preciso mudar, perturbar, modificar a ordem existente. Fazer progredir alguém, significa modificá-lo. Por isso, a educação é um ato de desobediência e de desordem. Desordem em relação a uma ordem dada, uma pré-ordem. Não se pode falar sobre educação, sem mencionar pelo menos o conceito de andragogia. A Andragogia significa, portanto, “ensino para adultos”. Busca promover o aprendizado através da experiência, fazendo com que a vivência estimule e transforme o conteúdo, impulsionando a assimilação. Adriana Marquez em palestra no 1º Encontro Nacional de Educação e Pensamento, na República Dominicana, cita: “A Andragogia na essência é um estilo de vida, sustentado a partir de concepções de comunicação, respeito e ética, através de um alto nível de consciência e compromisso social”. complementa ainda: “As regras são diferentes, o mestre (Facilitador) e os alunos (Participantes) sabem que tem diferentes funções, mas não há superioridade e inferioridade, normalmente não é o mesmo que acontece na educação com crianças.” Dessa forma, pode-se dizer que em geral, as experiências mais marcantes resultam em mudanças práticas na vida cotidiana, as quais são apresentadas, via de regra, sob a influência das emoções. Ainda para Gadotti, a prática educativa “é um complexo de atos e de conhecimentos, de decisões e de atenção que ultrapassam as possibilidades de uma teorização global”. O conhecimento pode ser um ato paralelo da aprendizagem ou ainda identificado como cumulativo e espontâneo, quando se adquire independentemente de estudos , pesquisas ou reflexões. Para Peter Drucker : “Na era do conhecimento, o sucesso sorri para os que sabem administrar seus pontos fortes e fracos”. Os conceitos vistos até este momento, demonstraram que a faculdade biológica de se possuir uma inteligência e o ato de viver em grupo, relacionando-se consigo mesmo, com os outros e com o meio ambiente, leva o indivíduo a aprender significados, ter conhecimento sobre os mesmos e conseqüentemente concretizar o ato da aprendizagem. Para Chiavenato (2002), toda organização é constituída de pessoas e que delas depende para seu sucesso e continuidade. O estudo das pessoas é fundamentalmente básico para uma organização, principalmente para a administração de Recursos Humanos. Pelo exposto até o momento, pode-se observar que tanto nas áreas de conhecimento da educação como na administração, existe um elemento comum que é o “indivíduo”e enquanto parte da organização/instituição é influenciado por alguns fatores, tais como: comunicação, motivação, reciprocidade, criatividade e trabalho em equipe. O conhecimento é um tesouro, mas a prática é a chave para ele (Thomas Fuller, 1608- 1661). Primeiro saber, depois agir e então realmente saber (Bishr al Haffi, Persa Sufi, 767-852). Há poucos anos não havia necessidade significativa de se preocupar com as mudanças. Uma pessoa, durante toda sua vida, não precisava passar por muitas mudanças de paradigma (muitas vezes não passava por nenhuma). Ao longo do tempo sobreviver e prosperar significava adaptar-se. Isso sempre foi verdade. O que há de diferente nesta entrada de novo milênio é que o tempo encurtou. As mudanças que apareciam em gerações agora surgem de um ano para outro. Lidar com essa nova realidade, uma nova dimensão das empresas/instituições, começa a ganhar importância e relevância para que o profissional continue no mercado de trabalho. Atualmente, qualidades como: virtualidade, conectividade, capacidade de adaptação, rapidez, consciência, emoção e inovação, são indispensáveis para a sobrevivência de uma instituição. A profissão de Educador, embora seja uma missão importantíssima da atuação profissional, é apenas uma das variáveis que envolvem o trabalho e a realização profissional. Para tanto é necessário o entendimento de toda uma dinâmica e o desenvolvimento de estratégias para direcionar as decisões e mudanças, sempre com objetivo de prestar ao cliente serviços de qualidade. O cliente tornou-se exigente não só tecnicamente, mas percebe a organização, localização, segurança, a pontualidade, o senso administrativo, o gerenciamento de pessoas, o marketing, O profissional é avaliado na sua totalidade e não mais tecnicamente. John Mayo, diz o seguinte: Se há um conselho a ser dado aos jovens, é de que tudo quanto eles aprenderam nos quatro ou cinco anos de universidade é suficiente apenas para o primeiro ano de vida profissional. Para os anos seguintes, o aprendizado terá que ser recomeçado. A chance de fazer uma carreira apenas com o que se aprendeu na universidade hoje em dia é zero. Acredita-se que uma das principais causas para a afirmação acima, é a falta de atualização dos conceitos recebidos, leitura, pesquisa, e investimento na carreira profissional. De nada adianta ter a criatividade, espírito inovador se não tiver atitude para realizar a mudança necessária. Sobre criatividade e inovação, o problema nunca é como trazer idéias novas e inovadoras para a mente, e sim como tirar as idéias velhas de lá (Tom Peters). Complementa o romancista francês Marcel Proust (1971-1922): “A verdadeira viagem de descobrimento não consiste em procurar novas paisagens, mas em ter novos olhos”. Esse novo olhar só poderá ser percebido, à medida que novas idéias atingem a mente e elas modificam a maneira de pensar e agir. Este é o âmago da questão! O quão importante é a gestão de pessoas nessa área do conhecimento. Pensa-se muito na relação professor-aluno, mas existe também a relação escola-professor, e é neste complexo contexto da tríade aluno-professor-escola que a gestão irá mostrar seus diferenciais. Como poderá um educador usar a sua totalidade, seu potencial, sua criatividade, sua inovação, se não houver gestão de pessoas! Não foi a ausência desta gestão o fator tão marcante do filme “Sociedade dos Poetas Mortos”? Nesse sentido, pode-se observar que o desafio não é necessariamente o de trocar de gestores e sim de qualificar (com técnicas) os que já fazem parte das organizações/instituições. A relevância está no quanto o dirigente conhece na sua área de atuação e não simplesmente a sua formação de origem. Meyer,Jr; Mangolim e Sermann (2004), relatam o seguinte: “Uma das funções mais negligenciadas nas instituições de ensino superior é a sua gestão. Alguns elementos contribuem para a situação em que se encontra a gestão das instituições de ensino superior. O primeiro deles é o fato de se atribuir à função gerencial na escola uma dimensão essencialmente operacional e secundária. O segundo é a ausência de modelos próprios de gestão para a organização educacional (...) Finalmente, um terceiro elemento é o predomínio de uma prática amadora e professora de gestão. As pessoas escolhidas para ocupar as posições de gestão não possuem preparação formal ou adequada experiência para assumir posições gerenciais”. Para se realizar um trabalho com pessoas, é necessário entender um pouco do comportamento humano e conhecer os vários sistemas e práticas disponíveis, que auxiliam na construção de uma força de trabalho qualificada e motivada. Sendo em parte intangível, o capital humano não pode ser gerenciado da mesma maneira que as empresas gerenciam tecnologias, produtos e cargos/salários. Porém para formar esse capital, os gerentes precisam desenvolver estratégias que possam garantir um pessoal com habilidades, conhecimentos e experiências. Considerando que, em geral os consumidores são indecisos, as organizações/instituições, exercem através de seus funcionários, um poder de influência mais relevante que qualquer outro setor, tanto pela característica intangível do serviço que faz com que a tangibilidade seja transferida para pessoa que o oferece, quanto pela confiança que é á base dessa atividade. A contribuição deste tema, não só beneficia os docentes e discentes, como também as empresas/instituições, permitindo uma visão da gestão de pessoas , a partir do estudo da prática dos profissionais da área empresarial. Irá contribuir ainda para uma gestão voltada à motivação, trabalho em equipe, conhecimento e aprendizado, que são características básicas para os profissionais da educação. Gestão de Pessoas na Educação, o que temos contribuído para isto? Se o mercado deseja profissionais preparados, nós educadores, temos a obrigação de mostrar que os alicerces de uma carreira com futuro promissor, começam pela gestão.