O Feitiço Do Tempo


Por:Maria José Carvas Pedro
Ultimamente tenho analisado o comportamento da classe Odontológica. Desde que me formei, e isto faz muito tempo, a cada encontro com colegas as reclamações são sempre as mesmas. Parece aquele filme que já assistimos umas dezenas de vezes. Por tocar em filme, isto me fez lembrar do filme o “Feitiço do tempo”. Lembram? O ator principal acorda sempre no mesmo dia (dia da marmota) e tudo se repete igualzinho. A pergunta é: “o que fez acabar o“feitiço do tempo”? Exatamente as mudanças internas que ocorreram com o personagem, pois ele em princípio, como todos nós, reclamava do que lhe acontecia; com o passar do tempo, ele foi percebendo que a rotina, se queremos acabar com ela, devemos nos modificar. Nesta parte o filme começa a mostrar as várias tentativas do personagem em mudar a rotina, mas ele só consegue quando descobre seus valores ( no caso o amor ) e passa a utilizá-los para a sua mudança, até que o “feitiço do tempo” acaba e ele segue numa nova estrada. Vamos comparar com a Odontologia. No momento em que ele percebeu que o seu cotidiano não lhe dava prazer, ao contrário, até o desmotivava, ele inteligentemente começou a sentir uma necessidade de mudança. Em princípio não sabia muito bem como, mas foi tentando até que conseguiu. Ele foi flexível, aceitou as mudanças, cresceu, e à semelhança de uma lagarta, se libertou do casulo e voou livre como uma borboleta. Quantos de nós já assistimos este filme, até gostamos (e se gostamos foi porque nos identificamos com o mesmo), mas continuamos fazendo o mesmo, esperando um milagre, que alguém com uma varinha mágica mude os padrões culturais da odontologia. Aqui surge outro ponto de reflexão: quais são estes padrões culturais da odontologia? A dura realidade é que nós dentistas não conhecemos nem os nossos próprios valores, como poderemos então querer conhecer o valor do nosso meio profissional; mas um fato é certo, ele reflete aquilo que somos. Nós colocamos a culpa na reação, na conseqüência, mas esquecemos que para que qualquer reação exista, faz-se necessário uma ação anterior, uma causa. E neste ponto eu pergunto: será que nós não nos condicionamos e habituamos às conseqüências? Vejamos um exemplo bem simples: todo dentista gosta ( e não adianta negar ) de saber tecnicamente como se faz, mas raríssimos se importam em saber por que se faz? Digo isto, pois quando ministro cursos esta é a minha proposta, o KNOW WHY no lugar do KNOW HOW, e sempre tenho a mesma reação do colegas, um sorriso, como de alívio às suas inseguranças, que fazem parte do seu cotidiano e que ele nem percebe mais. Usualmente ocorre uma busca incessante da classe por cursos e mais cursos; não que eles não sejam importantes, aliás são indispensáveis, mas o que analiso aqui é que inconscientemente o que buscamos são respostas aos nossos anseios. Temos medo de mudar, ficamos entre a insegurança conhecida contra a incerteza que toda a mudança traz.. Para reforçar o que escrevo, é que estou traçando um perfil do profissional da área de saúde, exatamente para facilitar quais são os anseios e necessidades da classe em termos de resistência às mudanças; o que tenho encontrado de uma forma geral nas respostas é que : mudanças são necessárias, mas eu não mudaria. Reconheço a importância de parar de me enxergar como dentista para me ver como empresário e agir como tal. Admito que gerir meu consultório é importante, mas não preciso de gestão. Vejam o paradoxo. Se não queremos mudar, é uma opção pessoal, mas então pare de reclamar que a Odontologia não muda. Por último perguntaria: para crescermos nosso corpo não sofre mudanças? Até quando seremos Peter pan? Até quando estaremos presos ao “Feitiço do tempo”? Pense nisso e descubra seus valores!