Mal De Alzheimer E A Mastigação


Dr. Darcy Flávio Nouer[p]Entrevista de Luiz Sugimoto com dr. Darcy Flávio Nouer professor da Ortodontia da Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP) A mastigação e o mal de Alzheimer A orientação para que os alimentos sejam bem mastigados não é conversa para crianças. A mastigação, além de estimular as articulações dentárias, propicia, por meio do sistema nervoso dentário, a comunicação com o sistema nervoso central. Ela influi também na parte fisiológica e bioquímica, com a salivação ao mastigar e deglutir. “No desequilíbrio da maloclusão este ato não se completa. O princípio da mastigação está em triturar os alimentos maiores para a formação de enzimas salivares que auxiliam na digestão, que se inicia na boca e se completa na região estomacal, propiciando a absorção dos elementos nutritivos pelos intestinos e, no sangue, pelas células e órgãos. Quando se mastiga mal, a saliva tem seu pH alterado, tornando-se ácida ou excessivamente alcalina, o que é prejudicial para o organismo, predispondo-o a doenças diversas”, adverte o professor Darcy Nouer. Nouer presidiu no início de abril o 2º Congresso Internacional e 3o Paulista de Especialistas em Ortodontia e Ortopedia Facial. O evento foi realizado em Campinas pela Associação Paulista de Especialistas em Ortodontia e Ortopedia Facial (APEO), atualmente presidida por Paulo Roberto de Aranha Nouer, professor colaborador da FOP. Entre os principais palestrantes esteve o professor Kazuo Tanne, coordenador de um importante centro de pesquisas sobre crescimento e desenvolvimento do crânio e da face da Faculdade de Odontologia da Universidade de Hiroshima. Ao ministrar na FOP um curso pré-congresso para pós-graduandos da Ortodontia, Kazuo Tanne falou sobre um trabalho de grande impacto na área, que relaciona as eficiências e deficiências na mastigação com o mal de Alzheimer. Os resultados demonstram que nessas degenerações, tanto no homem como nos animais de laboratório, observa-se a formação no sistema nervoso central de placas da proteína denominada Beta, que são indicadoras do Alzheimer. Essas placas causam degeneração dos neurônios como se fosse uma hemorragia. “O governo do Japão está investindo muito em pesquisas com a proteína Beta, precursora desta doença, cuja incidência aumentou numa população que tem expectativa de vida acima dos 80 anos”, esclarece o professor da FOP. Kazuo Tanne realizou um primeiro experimento com ratos de laboratório, comparando um grupo de animais anômalos, sem dentes, com um grupo de animais normais, oferecendo aos primeiros alimentos moles e aos outros alimentos fibrosos. Examinando lâminas microscópicas de tecidos do córtex cerebral, observou que os neurônios dos ratos desdentados estavam degenerados pelas placas de proteína Beta, enquanto que os ratos normais não apresentavam nenhum sinal de alterações, com ausência das placas. Num segundo experimento, Tanne comparou dois grupos de ratos com dentições sadias e mesmo peso e idade, oferecendo alimentos moles aos primeiros e alimentos duros e fibrosos aos segundos. “As placas apareceram novamente nos ratos que foram servidos com alimento moles, ou seja, que não mastigavam, levando a uma degeneração do sistema nervoso central. Esse trabalho só veio confirmar a importância da preservação do equilíbrio e da função mastigatória para a manutenção da saúde geral, o que já vínhamos observando nos trabalhos clínicos da FOP”, conclui Darcy Nouer. [/p]