A Consciência


Por Sandra Regina da Luz Inácio1. INTRODUÇÃO O pensamento evoluiu bastante em virtude de todas as mudanças pelas quais a humanidade passou, refletindo a diversidade cultural, o progresso da ciência, procurando sempre entender à vida, e tudo que a envolve para garantir a satisfação, segurança e felicidade. Busca-se uma integração do corpo físico com o espírito a alma e mente humana, orientados pela ciência, pela filosofia e as diversas religiões, para encontrar a beleza das coisas, sejam naturais ou espirituais, mas sempre desejando o que nos faz bem e que acrescenta o belo a nossa existência, às vezes a qualquer preço, atestando a fragilidade do pensar humano por vezes corrompido por dogmas e conceitos pré-estabelecidos. O pensar com pensamento flexível está diretamente ligado à imaginação humana que produz pensamentos com inteligência, possibilitando questionar valores, rever métodos, e darmos oportunidade a nós mesmos a fazermos uma viagem interior na busca do autoconhecimento, além de refletirmos sobre diversidades. Nesta maneira de pensar só se guarda a memória técnica, dirimindo a psicológica através da compreensão. É na educação que este nível de pensar (flexível), tem sua aplicação no construtivismo, como um exemplo do bem formar. Ali, é incentivado o “construir” e desconstruir” conceitos, não só contemplando a história, como a sociedade, a ciência, e a parte espiritual, representada nas diversas religiões, dando oportunidade ao educando, lidar melhor com suas dúvidas, seus questionamentos, descobrir do que é capaz, conhecer-se melhor, e enfim, o despertar da sua consciência. E esta consciência dá melhor oportunidade para o ser humano entender valores, a realidade que o cerca e as relações com o seu semelhante. É interessante observar que o ser humano por suas próprias necessidades, pela dinâmica das relações, precisa mover-se entre os níveis do pensar, dando oportunidades aos três níveis em momentos da nossa vida e o que podemos perceber é que precisamos saber quando e como melhor aproveitá-los. Pensar de maneira flexível, é se apropriar de valores universais, é questionar dogmas que trazem comportamentos extremistas, é reconhecer que existe algo além do conhecimento físico e além da ciência. Algo muito maior. Pensar flexível é entender a diversidade cultural, a diversidade no mundo das idéias, é não se propor a ser o dono da verdade, mas deixar que a verdade se apresente ao nosso “eu” interior e faça brilhar a nossa aura .Pensar flexível é não ser um mero repetidor de informações, mas viver suas experiências, é não amar a arte da crítica e da dúvida, quando elas se fazem pertinentes. 2. O QUE É A CONSCIÊNCIA? Em vez de definir a consciência, vamos descrever, o mais claramente possível, a sua função em nossa vida. Todos os homens, em sua existência se vêem continuamente colocados perante questões nas quais não se trata apenas do útil ou do nocivo, do vantajoso ou do prejudicial, mas do bem e do mal, impondo ao homem uma decisão. Pode acontecer que eu me veja diante de uma oferta sedutora, que me promete a satisfação de desejos pessoais, mas ao preço de sacrificar claros princípios morais, tomando-me infiel a mim mesmo. Ou tenho de optar entre dois bens, dos quais só um pode ser realizado agora, enquanto o outro deve ceder o lugar. Quando se apresentam semelhantes ocasiões de opção, manifesta-se em meu interior uma voz, um impulso que me indicam o bem que deve ser feito naquele momento. A voz faz parte de mim mesmo. Sei que ela me aconselha para o meu bem; que, além do mero cumprimento de uma lei, ela visa ao bem que devo fazer para seguir o meu caminho na vida; que, fazendo o bem indicado, melhorou alguma coisa no mundo em que vivo. A voz não se cala, mesmo quando aduzo motivos contrários às suas exigências, ou chamo a atenção para os obstáculos que se levantam contra o bem aconselhado. A voz insiste comigo, pedindo que eu me decida, e não me deixa repousar na indecisão. Por isso, quando refletimos sobre valores e normas éticas, ou quando emitimos juízos sobre a ação moral, sobre o bom ou mau procedimento de outros homens, ainda não estamos perante a consciência em sentido estrito, mas ante a nossa noção de valores. Certamente, já se trata de uma atividade da consciência, que apreende juízos de valoração (conscientia habitualis, segundo Tomas de Aquino). Mas a verdadeira função da consciência verifica-se no momento preciso em que eu tenho de tomar uma decisão em favor do bem, de um bem que me incumbe precisamente a mim e precisamente nesta hora, que não posso transferir a outro, nem dele me subtrair. Aqui falamos da consciência de situação (conscientia actualis). Logo, a consciência ocupa uma posição decisiva em nossa vida; o valor da minha vida não é determinado só pelo trabalho que presto, nem só pela minha posição social, nem só pelas minhas capacidades e talentos, mas substancialmente pela fidelidade com que sigo a minha consciência nas grandes e nas pequenas decisões, realizando concretamente o bem na minha vida e no mundo. O animal não tem consciência: é dirigido de modo seguro pelo seu instinto. O homem, pelo contrário, percebe, precisamente quando tem de tomar uma decisão consciente, que a voz da sua consciência é muitas vezes contra o seu capricho e tendências, contra a sua fome de prazer. O homem, portanto, não age impelido por uma necessidade, mas decide-se livremente. Esta liberdade, porém, constitui uma ameaça para a sua dignidade pessoal, isto é, para a promoção de sua personalidade moral e para o pleno desenvolvimento de sua própria vocação, pois o homem pode, contrariando a sua consciência, decidir-se em favor da desordem, do mal. Uma decisão da consciência não é somente uma questão de raciocínio, de lógica. Ela é motivada e movida pelo amor do bem e pela vontade que, em última analise, dita a sentença da consciência. Por isto, designamos a consciência como uma faculdade pessoal que atua em nossa vida. O homem, vivendo a possibilidade de ver a sua existência aprovada ou ameaçada, tem o poder de decidir-se com toda a sua pessoa, pela verdade e pelo bem (a Bíblia diria “com todo o seu coração”). A consciência torna-se assim o ponto de convergência e o centro de todos os dinamismos, de todos os valores, de todo o saber, sentir, poder de um homem. Deste modo, a consciência dá ao homem a possibilidade de construir ele mesmo a sua vida, que é uma só e que, justamente na sua unicidade, lhe foi confiada como um dom e uma tarefa a realizar. Pela consciência, podemos pôr em execução a máxima mais antiga da humanidade, proferida por um pensador grego: “Sê aquele que és!” Quem só vive dos “slogans” do tempo, deixando-se determinar por aquilo que “a gente” diz, julga e faz, ou quem, obedecendo irrefletidamente, executa ordens sem convicção, renuncia ao seu verdadeiro ser humano, embora a sua vida, aos olhos dos estranhos, decorra mais ou menos ordenadamente. Seguindo a sua consciência, porém, o homem vive e realiza uma vida que só a ele foi confiada. Um filósofo estóico, Crisipo (205 a.C.), chama a consciência de “fundamento da construção da personalidade humana”; e Helmut Kuhn fala de “um nascimento da consciência de si mesmo a partir da consciência moral” Mas pela consciência o homem também faz a experiência de pertencer à sociedade humana, nas suas diferentes modalidades de vida, desde a família até o Estado e mesmo até a grande humanidade, que hoje em dia cresce cada vez mais em sua unidade. Isto aparece já na própria palavra “consciência” = saber com os outros. A palavra atesta a responsabilidade pelos outros, indica a comunhão no conhecimento e na realização de normas éticas validas. É precisamente através da comunidade, através da palavra esclarecedora e do bom exemplo da vida, que a consciência de cada um é formada em sua essência. Inversamente, as comunidades humanas só são preservadas de se tornarem organizações sem conteúdo pelo fato de que cada um dos seus membros se decide pelo bem seguindo a própria consciência. Somente onde o indivíduo por própria convicção respeita o direito dos outros, desde as exigências mínimas da regra de ouro “o que não queres que alguém faça a ti, não o faças tu a nenhum outro”, até as exigências mais elevadas do amor a Deus e ao próximo, somente onde o indivíduo não entra em conflito com a comunidade, mas se dispõe a servi-la, só aí a convivência dos homens é preservada de um estado insuportável de coação e prisão, ou de massa heterogênea em dissolução, em que todos se odeiam e mutuamente se combatem. Mas nesta reciprocidade entre a consciência e a sociedade, a consciência não é absolutamente a mesma coisa que as ordenações de autoridades humanas ou de exigências positivas da sociedade, ou seja, de costumes tradicionais que se refletem na capacidade de decisão pessoal. A consciência não é o meio pelo qual o homem é inserido sem defesa e sem contradição no seu ambiente social e entregue à mercê dele. A prova disto é o fato histórico de que sempre apareceram homens que, apoiados unicamente em sua consciência, protestaram e lutaram contra tradições morais admitidas ou costumes sociais inveterados, ou até contra ordens que pretendiam apoiar-se na vontade divina. Assim, no processo da história da humanidade a consciência é ao mesmo tempo um fator da permanência contra a arbitrariedade subjetiva, e um motor dinâmico contra a rigidez de costumes éticos ultrapassados. Alem disto, o homem tem a experiência de si mesmo como ser situado em um limite, recebendo desafios vindos além deste limite. Em outras palavras, ele toma conhecimento de si como ente transcendente, que pode e deve ultrapassar a si mesmo.