Por Sandra Regina da Luz Inácio
O Ciclo de vida de um ser humano, ao qual sobreviveremos como ser individual, ainda que para isso dependamos enormemente da ajuda de companheiros da mesma espécie e de uma incessante Troca e Interação com o meio ambiente através da respiração, alimentação, sexo, familiar e social, trabalho, etc.
Estas duas facetas da existência (Autonomia e interdependência) convivem uma com a outra e são essenciais a quem queira usufruir um viver pleno seja em qualquer âmbito de nossas existências.
No entanto, desde muito cedo associamos o Prazer a estar junto e a dor a estar só. Quanto a isso existe uma unanimidade quase inquestionável. Somos ensinados a isso e nos convencemos de que estar bem com o social (família, escola, trabalho, civilização de massa), é fundamental e que há algo de errado e verdadeiramente pecaminoso em alguém se isolar ou estar separado dos outros.
Associamos doença e morte à solidão com a mesma facilidade com que associamos vida e prazer à experiência comunitária. Com o tempo a consciência do fato de sermos seres autônomos e individuais cai no esquecimento mórbido das coisas reprimidas e negadas.
Quase ninguém se sente confortável quando é obrigado a tomar uma decisão individual (quando não adianta ouvir os Conselheiros de plantão e só pessoalmente se pode encontrar uma resposta), e ainda, sobretudo quando todas as tentativas de recorrer ao convencional ou àquilo que é Considerado como o Melhor a fazer, não nos responde à questão: "o que quero; devo; prefiro; escolho; pretendo; preciso; desejo... fazer ?"
Todos sabemos o quanto é mais fácil sucumbir a uma pressão externa do que procurar descobrir qual é a nossa real inclinação ou, ainda, do quanto é mais fácil ter uma resposta pronta nos lábios do que procurar saber o que o nosso íntimo tem a dizer.
Devido a isto, muito freqüentemente nos descobrimos fazendo o que imaginamos que os outros gostariam que fizéssemos em detrimento daquilo que faríamos (será?) se tivéssemos a "ousadia" de agir; pensar; falar e seguir o nosso EU individual para todas as situações incluindo a vida profissional.
Historicamente firmou-se o ditado: "Antes só do que mal acompanhado". Contudo verifica-se que o aqui denominado Contraditado:"Antes mal acompanhado do que só", com demasiada freqüência acaba prevalecendo. Conclusão: É mais confortável seguir o convencional; o aprendido; o que se pensa ; o que se faz; o que se deve.
Muitos se descobrem sós em meio à multidão, muitos sentem um enorme abismo que separa o EU inapelavelmente dos outros.
Muitos se revoltam por dizer sempre "sim e/ou não" (às pressões e demandas dos outros) tanto quanto por não saberem dizer "não e/ou sim"... Não se nota, neste sentido, nenhuma diferença qualitativa entre os contingentes de conformados e o dos revoltados, pois de um modo ou do outro, ambos os grupos, em seu desequilíbrio, perderam a liberdade e o poder de escolha verdadeiramente individual.
Muitos se rebelam contra a permanente companhia dos outros, para depois se ressentirem de sua falta após a separação.
Outros dizem: "ruim com o outro, pior sem ele" e se submetem a condições insuportáveis no relacionamento.
Os acomodados e conformados esperam (e anseiam), que "alguém" lhes ofereça soluções e respostas para tudo...
Muitos se misturam aos muitos para não sentir tanto a presença do EU! Este é um terreno fértil para todo tipo de ilusão e desequilíbrio.
Há muitos meandros e subterfúgios para se fugir da "Solidão Necessária".
Em nossa cultura de massas a ação mais individualizada aparece, por exemplo, nos egocêntricos renitentes (o contingente das pessoas que são "do contra" em uma cultura de massas), quase sempre de uma forma desequilibrada e deselegante.
Ou então, esta ação individualizada é considerada uma prerrogativa de artistas; filósofos; idealistas; sonhadores; visionários; líderes carismáticos.
Nota-se, portanto, que apenas uma pequena parcela da sociedade se individualiza (e são idolatrados) enquanto o restante (a grande massa), se alimenta dos produtos e realizações destes poucos, invejando abertamente as suas façanhas e esquisitices.
Há uma Solidão Necessária quando o outro nos chama a uma cumplicidade negativa com ele e somos obrigados a enfrentá-lo dizendo a verdade ou apontando um outro ponto de vista. Vice-versa, quando não aceitamos a Solidão Necessária acabamos cúmplices dos outros com muita facilidade, sendo demasiadamente flexíveis e/ou não nos fazendo moralmente claros e nem verdadeiros (geralmente pelo medo da rejeição).
Naturalmente, em assim sendo, o outro não encontra em nós um oponente valoroso, e sim, um cúmplice benevolente demais, complacente demais e sem limites definidos. (Esclarecimento necessário: oponente valoroso: é aquele que não foge do confronto (quando é o caso) e se opõe a nós quando estamos desequilibrados e, portanto, errados. É aquele que nos mostra o outro lado daquilo que desejamos ver; ou ainda, aquele que nos aponta os furos e as sombras de nossa posição costumeira).
Estar junto é uma coisa boa, mas estar em cumplicidade é criar vínculos negativos que roubam nossa liberdade de ser e nos fazem escravos da necessidade de afeto, que por si mesma nos faz dependentes e submissos ao outro em qualquer situação da vida (afetiva, profissional, social, familiar, etc.).
Alguém que vive a Solidão Necessária aceita pagar o preço e o risco de se descobrir em má companhia (quando defendendo aquilo que, para si próprio, faz sentido ser, dizer ou fazer!) e pode se ver diante da necessidade de decidir pela separação, afastamento (já que, nesta hora, ele descobre que sozinho já estava há muito tempo... sem um oponente valoroso).
Muitas vezes, fugimos de ter que tomar decisões porque a falta de aceitação da Solidão Necessária nos faz frágeis e dependentes.
Numa relação, alguém pode descobrir que apesar de sempre ter tido companhia, sempre esteve só e isso é ainda mais notório se algum fator inesperado quebra a rotina e expõe os envolvidos à urgência de exercer uma opção individual, antes muito adiada.
Toda vez que um indivíduo toma uma posição em função de um desafio, dúvida ou paradoxo e faz uma escolha/toma uma decisão de uma direção a seguir, ele exerce a Solidão Necessária (Claro, desde que sua opção não se tenha baseado unicamente nos padrões sociais convencionalmente impostos).
A Solidão Necessária não se abastece da carência e do medo: ela é o preço a ser pago pela individualidade e pelo exercício do direito de escolha e de decisão responsáveis.
Será que ocorre a alguém que ele possa ser feliz e sentir-se completo sem se individualizar? Usando uma metáfora posso dizer que o Universo pode nos ter dado o oceano, as correntes marítimas, as marés e os ventos, mas cabe a nós tomar o "leme" de nossos humanos recursos (barco) de sobrevivência e de produção, para nos orientarmos de modo autônomo na tomada responsável de decisões individuais.
Alguém já disse:"Não se pode MORRER MAIS OU MENOS então, por que aceitamos que se possa VIVER MAIS OU MENOS?"
A Solidão Necessária Nas Organizações
O Ciclo de vida de um ser humano, ao qual sobreviveremos como ser individual, ainda que para isso dependamos enormemente da ajuda de companheiros da mesma espécie e de uma incessante Troca e Interação com o meio ambiente através da respiração, alimentação, sexo, familiar e social, trabalho, etc.
Estas duas facetas da existência (Autonomia e interdependência) convivem uma com a outra e são essenciais a quem queira usufruir um viver pleno seja em qualquer âmbito de nossas existências.
No entanto, desde muito cedo associamos o Prazer a estar junto e a dor a estar só. Quanto a isso existe uma unanimidade quase inquestionável. Somos ensinados a isso e nos convencemos de que estar bem com o social (família, escola, trabalho, civilização de massa), é fundamental e que há algo de errado e verdadeiramente pecaminoso em alguém se isolar ou estar separado dos outros.
Associamos doença e morte à solidão com a mesma facilidade com que associamos vida e prazer à experiência comunitária. Com o tempo a consciência do fato de sermos seres autônomos e individuais cai no esquecimento mórbido das coisas reprimidas e negadas.
Quase ninguém se sente confortável quando é obrigado a tomar uma decisão individual (quando não adianta ouvir os Conselheiros de plantão e só pessoalmente se pode encontrar uma resposta), e ainda, sobretudo quando todas as tentativas de recorrer ao convencional ou àquilo que é Considerado como o Melhor a fazer, não nos responde à questão: "o que quero; devo; prefiro; escolho; pretendo; preciso; desejo... fazer ?"
Todos sabemos o quanto é mais fácil sucumbir a uma pressão externa do que procurar descobrir qual é a nossa real inclinação ou, ainda, do quanto é mais fácil ter uma resposta pronta nos lábios do que procurar saber o que o nosso íntimo tem a dizer.
Devido a isto, muito freqüentemente nos descobrimos fazendo o que imaginamos que os outros gostariam que fizéssemos em detrimento daquilo que faríamos (será?) se tivéssemos a "ousadia" de agir; pensar; falar e seguir o nosso EU individual para todas as situações incluindo a vida profissional.
Historicamente firmou-se o ditado: "Antes só do que mal acompanhado". Contudo verifica-se que o aqui denominado Contraditado:"Antes mal acompanhado do que só", com demasiada freqüência acaba prevalecendo. Conclusão: É mais confortável seguir o convencional; o aprendido; o que se pensa ; o que se faz; o que se deve.
Muitos se descobrem sós em meio à multidão, muitos sentem um enorme abismo que separa o EU inapelavelmente dos outros.
Muitos se revoltam por dizer sempre "sim e/ou não" (às pressões e demandas dos outros) tanto quanto por não saberem dizer "não e/ou sim"... Não se nota, neste sentido, nenhuma diferença qualitativa entre os contingentes de conformados e o dos revoltados, pois de um modo ou do outro, ambos os grupos, em seu desequilíbrio, perderam a liberdade e o poder de escolha verdadeiramente individual.
Muitos se rebelam contra a permanente companhia dos outros, para depois se ressentirem de sua falta após a separação.
Outros dizem: "ruim com o outro, pior sem ele" e se submetem a condições insuportáveis no relacionamento.
Os acomodados e conformados esperam (e anseiam), que "alguém" lhes ofereça soluções e respostas para tudo...
Muitos se misturam aos muitos para não sentir tanto a presença do EU! Este é um terreno fértil para todo tipo de ilusão e desequilíbrio.
Há muitos meandros e subterfúgios para se fugir da "Solidão Necessária".
Em nossa cultura de massas a ação mais individualizada aparece, por exemplo, nos egocêntricos renitentes (o contingente das pessoas que são "do contra" em uma cultura de massas), quase sempre de uma forma desequilibrada e deselegante.
Ou então, esta ação individualizada é considerada uma prerrogativa de artistas; filósofos; idealistas; sonhadores; visionários; líderes carismáticos.
Nota-se, portanto, que apenas uma pequena parcela da sociedade se individualiza (e são idolatrados) enquanto o restante (a grande massa), se alimenta dos produtos e realizações destes poucos, invejando abertamente as suas façanhas e esquisitices.
Há uma Solidão Necessária quando o outro nos chama a uma cumplicidade negativa com ele e somos obrigados a enfrentá-lo dizendo a verdade ou apontando um outro ponto de vista. Vice-versa, quando não aceitamos a Solidão Necessária acabamos cúmplices dos outros com muita facilidade, sendo demasiadamente flexíveis e/ou não nos fazendo moralmente claros e nem verdadeiros (geralmente pelo medo da rejeição).
Naturalmente, em assim sendo, o outro não encontra em nós um oponente valoroso, e sim, um cúmplice benevolente demais, complacente demais e sem limites definidos. (Esclarecimento necessário: oponente valoroso: é aquele que não foge do confronto (quando é o caso) e se opõe a nós quando estamos desequilibrados e, portanto, errados. É aquele que nos mostra o outro lado daquilo que desejamos ver; ou ainda, aquele que nos aponta os furos e as sombras de nossa posição costumeira).
Estar junto é uma coisa boa, mas estar em cumplicidade é criar vínculos negativos que roubam nossa liberdade de ser e nos fazem escravos da necessidade de afeto, que por si mesma nos faz dependentes e submissos ao outro em qualquer situação da vida (afetiva, profissional, social, familiar, etc.).
Alguém que vive a Solidão Necessária aceita pagar o preço e o risco de se descobrir em má companhia (quando defendendo aquilo que, para si próprio, faz sentido ser, dizer ou fazer!) e pode se ver diante da necessidade de decidir pela separação, afastamento (já que, nesta hora, ele descobre que sozinho já estava há muito tempo... sem um oponente valoroso).
Muitas vezes, fugimos de ter que tomar decisões porque a falta de aceitação da Solidão Necessária nos faz frágeis e dependentes.
Numa relação, alguém pode descobrir que apesar de sempre ter tido companhia, sempre esteve só e isso é ainda mais notório se algum fator inesperado quebra a rotina e expõe os envolvidos à urgência de exercer uma opção individual, antes muito adiada.
Toda vez que um indivíduo toma uma posição em função de um desafio, dúvida ou paradoxo e faz uma escolha/toma uma decisão de uma direção a seguir, ele exerce a Solidão Necessária (Claro, desde que sua opção não se tenha baseado unicamente nos padrões sociais convencionalmente impostos).
A Solidão Necessária não se abastece da carência e do medo: ela é o preço a ser pago pela individualidade e pelo exercício do direito de escolha e de decisão responsáveis.
Será que ocorre a alguém que ele possa ser feliz e sentir-se completo sem se individualizar? Usando uma metáfora posso dizer que o Universo pode nos ter dado o oceano, as correntes marítimas, as marés e os ventos, mas cabe a nós tomar o "leme" de nossos humanos recursos (barco) de sobrevivência e de produção, para nos orientarmos de modo autônomo na tomada responsável de decisões individuais.
Alguém já disse:"Não se pode MORRER MAIS OU MENOS então, por que aceitamos que se possa VIVER MAIS OU MENOS?"